ÁREA DAS CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO – LATU SENSU: EDUCAÇÃO-2008
DISCIPLINA: PROCESSOS DE APRENDIZAGEM
EDUCADOR DR. ROQUE STRIEDER
GRADUANDO: CREMILSON BRESCOVIT
Aprendizagem e Educação.
Durante milhões de anos, a natureza seguiu seu curso, onde conviviam entre si infinitas espécies de animais e vegetais. A cadeia biológica era mantida pelo conjunto de ações realizadas dentro do grupo, a partir do momento que os homens primatas se sentiram ameaçados por outras espécies, começaram a sentir a necessidade de se proteger e dominar, essas emoções provocaram no homem a construção de diferentes conhecimentos, pelos quais adquiriu a capacidade de organizar a sua aprendizagem, podendo assim desempenhar as suas potencialidades. Mas a cultura criada pelo homem de domínio e hierarquia sobre os demais sistemas vivos, fez com que ele esquecesse que é constituído por um sistema de seres vivos, onde um depende do outro para manter-se no estágio da vida, o aprender e o fazer levaram o homem a se apropriar do meio natural de forma inadequada, e isso se tornou algo perigoso, que pode levar ao fim da vida na Terra.
Desde os primórdios da formação social e concentração de grupos humanos em diferentes espaços geográficos, o ser humano passou a praticar uma educação voltada à acumulação e ao individualismo. Nesse preâmbulo, estamos diante de normas e regras criadas dentro do sistema cultural que impactam de forma negativa na educabilidade e na aprendizagem, como e quais são as estratégias para trabalhar num contexto sistêmico e de auto-organização?
Nessa perspectiva nos perguntamos constantemente que educação é essa que se indaga que se discute? Que estuda um todo, que se desintegra em partes. Estuda o mundo ou as pessoas, será a ciência da vida? Do abstrato ou do concreto, ou talvez a ciência dos fenômenos sociais, políticos, econômicos e sociais? Afinal o que é educação? O que é aprender? O que é ensinar? O que significam os paradigmas e as dialéticas da educabilidade dentro do contexto da vida?
As questões citadas anteriormente nos colocam diante de vários paradoxos educacionais, convivemos em um mundo onde é preciso entender que tudo depende de uma estrutura e essa estrutura para se manter inalterada necessita de todas as partes de um sistema.
Nesse trabalho não procuro resposta para as questões citadas acima, até mesmo por que nem sabemos se essas questões têm respostas, mas procuro oportunizar algumas maneiras pelas quais podemos exercer a pratica docente dentro de um contexto sistêmico e de auto-organização.
A concepção sistêmica e a teoria da auto-organização na área educacional.
Ao começar escrever esse artigo, me encontrei diante de uma perplexa dúvida, que tenho certeza deve estar presente na mente de milhares de educadores brasileiros, e por que não mundiais. A pergunta que aflora a nossa mente, nos faz questionar, mas afinal para que serve a educação?
Cabe aqui salientar que a partir do momento que os seres humanos passaram a se auto-responsabilizar por seus atos, sentiram-se suficientemente únicos e na condição de soberanos sobre o Planeta Terra. E é dentro deste contexto que tem inicio a história da educação no mundo.
Mas afinal, então se é na educação que nós educadores cobramos um mundo mais justo e digno para todos, é na educação também que estamos diante de uma dialética educacional, de um lado temos a escolha de continuarmos usando a educação como um mero elemento formador de “máquinas”, para o mercado de trabalho, ou realmente nos voltarmos para a compreensão do biológico dos seres vivos e ajudarmos na construção de sistemas vivos capazes de se sentirem felizes e realmente se entenderem como parte de um sistema complexo de vida e necessários para a construção da teia da vida.
Ao ser instigado a escrever esse artigo e usar a concepção sistêmica e a teoria de auto-organização como formas de trabalhar uma educação inovadora e que auxilie as pessoas na compreensão do seu cotidiano e se sentirem realmente parte da sociedade, pensei na possibilidade de trabalhar a Teoria da Auto-Organização e a Concepção sistêmica fora do contexto educacional primeiramente, e posteriormente conciliar esses dois estudos dentro do campo educacional, estou ciente que isso seria uma forma mais dinâmica de trabalhar esse assunto, mas resolvi trabalhar dentro de um sistema mais aberto, procurando fazer um paralelo entre os termos citados anteriormente e as possibilidades de usufruir da colaboração desses dois estudos dentro do meio escolar.
E nesse sentido procuro trabalhar essas duas concepções dentro de um mesmo contexto, pois, ao analisar a base ou plano de fundo da Teoria da auto-organização e concepção sistêmica, seguindo as palavras de Capra, p76, 1997, fica evidente que esses dois conceitos caminham juntos.
Para compreender o fenômeno da auto - organização, precisamos, em primeiro lugar, compreender a importância do padrão. A idéia de um padrão de organização - uma configuração de relações características de um sistema em particular – tornou-se o foco explicito do pensamento sistêmico em cibernética, e tem sido uma concepção de importância fundamental desde essa época. A partir do ponto de vista sistêmico, o entendimento da vida começa com o entendimento do padrão.
Ao analisarmos a idéia dos autores fica mais claro que ao estudar a estrutura é necessário entendermos a rede ou padrão junto com a sua organização. Ao procurar resposta somente na estrutura o estudo apresenta defasagem, pois, ao estudar um átomo, por exemplo, alguns estudiosos pensaram ter encontrado a menor molécula, mas mais tarde o átomo, foi divido em nêutrons, prótons, elétrons e assim sucessivamente.
Ao trazermos esse estudo para o contexto de vida de cada individuo é preciso entender que a mesma é formada por uma rede de relações, e uma rede não se faz só horizontalmente, mas também verticalmente, e nessa perspectiva a diversidade deve ser respeitada, pois a aprendizagem ocorre quando acontece a relação do biológico com o seu emocional, o estudo através da biologia do amor, da cooperação e do emocional, faz com que o aluno se construa como ser e estrutura, sendo assim podemos dizer que as verdades ditas na atualidade são questionáveis, e que estão sujeitas a mudança, como podemos analisar nas palavras de Maturana, p15, 1998.
Todos os conceitos e afirmações sobre os quais não temos refletido, e que aceitamos como se significassem algo simplesmente porque parece que todo mundo os entende, são antolhos. Dizer que a razão caracteriza o humano é um antolho, porque nos deixa cegos frente a emoção, que fica desvalorizada como algo animal ou como algo que nega o racional. Quer dizer, ao nos declaramos seres racionais vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não constitui nosso viver humano, e não damos conta que todo sistema racional tem um fundamento emocional.
Nesse sentido, não podemos pensar que o cérebro humano é o único que constrói conhecimento, o conhecimento é construído com todas as partes do corpo em perfeito funcionamento, comunicação e interação, o conhecimento é construído através do sentimento, da emoção, segundo Capra 1997, o conhecimento passa por um ciclo de realimentação capaz de regular-se a si mesmo, se o conhecimento fosse repassado e nosso cérebro amontoa-se toda a bagagem de informações, nossa cabeça seria pequena demais, para atender essa demanda. Sendo assim, o autor afirma que.
[... podemos dizer que a auto-organização é a emergência espontânea de novas estruturas e de novas formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio, caracterizados por laços de realimentação internos e descritos matematicamente por meio de equações não-lineares. (CAPRA, p80, 1997.)].
Ao trazermos para o campo educacional que é o principal foco a ser debatido nesse artigo, cito que é preciso criar em nossos alunos a consciência de que somos formados por uma série de seres vivos, ou seja, que somos um sistema vivo, e dentro desse conjunto necessitamos um do outro para usufruir de uma vida sadia, e que quando uma parte do padrão for prejudicada afetará toda a teia da vida.
Todavia, é preciso pensar em uma educação voltada para o ser ou para o fazer? Poderia aqui deixar a minha opinião sobre uma possível resposta a essa pergunta, mas procurarei deixar apenas uma pequena colaboração, deixando ao leitor a possibilidade de escolha, se baseando em qual educação prefere seguir, podemos dar a oportunidade para que o aprendiz, dentro de suas possibilidades possa fazer reflexões, para que ele possa desenvolver o seu próprio eu, sua criatividade e a sua criticidade, sendo assim, estamos abrindo um espaço sem fronteiras e possibilitando que o aprendiz se auto-organize e crie a sua base estrutural. Por outro lado, podemos continuar usando a nossa hierarquia profissional, desvalorizando a história de vida do aprendiz e conseqüentemente não levando em consideração a sua teia estrutural biológica, que pode ser afetada o tornando submisso.
Nesta perspectiva, é preciso termos em mente que os alunos não freqüentam a escola para buscar conhecimento, a escola precisa estar organizada dentro de um contexto que consiga desordenar os alunos, para que eles possam se reestruturar e modificar-se como ser e estrutura. Foi culturalmente que criamos as nossas diferenças e se realmente nós educadores estivermos comprometido com a realidade sócio-espacial que nos rodeia ou sociedade em geral, estamos diante de um contexto contraditório, sendo que ao mesmo tempo em que a educação promove a individualidade através de provas e notas, cobra a cooperação e participação no grupo.
E dentro deste contexto é preciso entender que somos seres organizados através de sistemas abertos, onde acontecem trocas constantes entre o meio e o ser, e nesse sentido estamos sujeitos a mudança, a cultura individualista que prega o sistema capitalista está sujeita a mudança, desde que aos poucos consigamos deixar a artificialidade e o conteudismo trabalhados em sala de aula, e nos voltarmos a entender a educação como a vida, que é preciso fazer com que nossos educandos consigam compreender a sociedade e dessa maneira aumentem a sua capacidade de interpretação, participação e colaboração, somente assim conseguiram “crescer” como pessoas.
E nesse sentido Moraes, p37, 2003, nos dão a sua colaboração.
Na realidade essas questões vêm sendo discutidas a mais de 50 anos por Piaget, Bruner, Kilpatrick e, mais recentemente, por Maturana e Varela, com sua teoria da autopoiese, ou de autoprodução, que explica o padrão de organização dos sistemas vivos e como a aprendizagem humana acontece. No entanto, essas questões precisam ser urgentemente retomadas pela área educacional, pois, na realidade, existem aqueles que ainda continuam acreditando que educação e escola estão separadas da vida, algo extrínseco a ela, com a qual não se relacionam como algo separado do real processo de viver.
Ao analisar as palavras citadas pela autora, nesse momento me volto a parte introdutória desse trabalho, onde citei várias problemáticas educacionais enfrentadas na atualidade, mas em ênfase coloco a principal questão tema desse artigo, como e quais são as estratégias para trabalhar a educação num contexto sistêmico e de auto-organização, já que as normas e regras criadas pela sociedade impactam de forma negativa na educabilidade e na aprendizagem atual?
Todavia, procurei citar nesse artigo um paralelo entre a teoria da auto-organização e a concepção sistêmica dentro da área educacional, e é preciso considerar que realmente a situação educacional do Brasil enfrenta problemas como esse, é preciso entender também que somos uma sociedade na sua grande maioria acomodada, pois, muitas vezes na escola aprendemos isso, mas é de fundamental importância ressalvar que temos ai, novas formas de ver a educação, de compreender a educação como vida, de ajudarmos na construção da teia de vida de cada pessoa, se na atualidade a nossa sociedade nos norteia dentro de um sistema capitalista de ocupação e exploração do espaço, podemos ter dentro de uma visão sistêmica e de auto-organização a grande base para nos voltarmos ao estudo do biológico, do sentimento, da emoção, do conhecimento, etc. Ou seja, darmos valor ao individuo, não a posição social que ele ocupa, darmos valor a individualidade e ao mundo de cada um, respeitarmos a visão e a compreensão de mundo de cada pessoa, e nesse sentido entender que somos todos diferentes, mas temos os mesmos direitos e deveres.
REFERENCIAS.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix,1997.
MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
MATURANA. Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte Ed: UFMG, 1998.